sábado, 1 de setembro de 2012

Sachsenhausen e a "arquitetura da destruição"



A entrada do campo
Berlim foi muito mais uma aula de história do que uma viagem de férias. Depois de visitarmos vários museus, no último dia, ainda sem tempo de "digerir" tudo que vi e li, fomos visitar Sachsenhausen, o primeiro campo de concentração construído nos moldes da "arquitetura da destruição" e que serviu de modelo para os outros campos. Esteve ativo desde meados de 1936 a abril 1945.

Confesso que um dia antes de visitar o campo de concentração eu me senti mal, pois sempre li sobre o nazismo, vi diversos filmes e sabia que não ia ser fácil para mim ter o que chamo de “encontro com o passado”. 

Nos museus já me emocionava vendo os uniformes, os objetos, as fotos, etc. e confesso que sonhei, na noite anterior à visita, com tudo aquilo que tinha visto e com o que eu poderia ver.

Bom, acordamos e tentamos fazer uma visita guiada, pegamos as indicações sobre a visita no hotel e fomos nos encontrar com os guias (há várias visitas guiadas e é muito fácil pegar as informações nos hotéis). Infelizmente não havia o número de pessoas suficientes para o "tour" (apenas eu, Humberto e uma outra pessoa) e por isso fomos sozinhos, de trem, seguindo as indicações dadas pelo guia. 

O campo fica a 35 km de Berlim, na cidade de Oranienburgo, aproximadamente 01 hora de viagem. Chegando na estação, seguimos de táxi até o campo, mas voltamos a pé, fazendo o mesmo caminho feito pelos judeus, ciganos, homossexuais.... Foi o verdadeiro "caminho da morte" para muita gente. As pessoas seguiam sem saber para onde iam e muito menos sem saber o que as esperava.

As milhares de pessoas que passaram por este caminho foram hostilizadas pelo moradores da cidade.  Muitos moradores jogavam pedras, "xingavam" e humilhavam aquelas pessoas, numa demonstração clara de que muitos alemães apoiavam a insanidade nazista.

O portão de ferro com a frase "O trabalho liberta"
Antes de entrarmos alugamos um áudio-guia para facilitar nossa compreensão sobre como funcionava o campo (aconselho o aluguel). Já na entrada comecei a perceber que minhas expectativas seriam extrapoladas... Além das informações técnicas do "guia", podíamos ouvir a narrativa daqueles que sobreviveram ao campo.

Quando o ouvi o primeiro relato de um ex-prisioneiro, logo no grande portão de ferro da entrada principal, que contém a frase "o trabalho liberta", narrando sua chegada a Sachsenhausen, percebi que seria uma dia de muitas reflexões...

o gelo no chão do campo
O frio que fazia naquele dia e o gelo no chão reforçava a idéia que tenho do sofrimento das pessoas que estiveram ali, pois não havia aquecedores nos alojamentos (claro!), os pijamas/uniformes eram de um pano "leve" e obviamente não havia gorros e luvas. As 16h, quando saímos de lá, já parecia noite e o frio, mesmo com minha roupa adequada para o inverno, era quase insuportável.

o uniforme usado pelos prisioneiros
Muitos morreram de frio ou de doenças decorrentes do frio, da falta de alimentação, do trabalho forçado. Outros sufocados nos alojamentos superlotados, muitos foram fuzilados, torturados e outras tantas pessoas foram mortas nas câmaras de gás.

Havia no campo não só câmaras de gás, mas também de fuzilamento. As pessoas que eram encaminhadas para tais locais, de caminhão, recebiam uma roupa nova e eram informados de que iam para uma consulta médica,  ou seja, uma crueldade sem fim...

Estação Z
Estação Z era o nome do local do fuzilamento, na verdade o nome é fruto de uma "brincadeira" feita pelos oficiais, pois os prisioneiros entravam no campo pela Torre A e terminavam na Zona Z, sem vida.

As câmaras de fuzilamento possuíam camadas duplas de parede e o som do fuzilamento não era ouvido no campo, além disso, havia música no local para evitar o som dos tiros. 

Não há registro de fuga, pois quem pisasse na zona neutra era fuzilado, ainda havia arrame farpado, cerca elétrica, guardas, e era impossível escapar. As tentativas de fuga eram castigadas com a morte no centro do campo, na frente de todos, para servir de exemplo. Se houvesse suspeita de a fuga era tentada por desejo de morrer, o prisioneiro levava tiros nas pernas, braços e mãos e era levado de volta ao campo.

Quem não cumprisse os procedimentos do campo era severamente torturado. Uma das formas de tortura era colocar o prisioneiro em cela minúscula, pendurado por horas com os braços voltado para trás; com isso o braço era deslocado e dor era terrível, insuportável.

As "bandeirinhas" que identificavam os prisioneiros
Também há os locais de experimentos médicos. Muitas pessoas, entre elas crianças, foram contaminadas com alguns vírus para que fossem testados medicamentos e vacinas. Contaminados, fatalmente morriam.

Os prisioneiros eram identificados com uma "bandeirinha" colorida presa ao uniforme, havia uma cor específica para diferenciar judeus, homossexuais, ciganos, religiosos, etc... Uma pessoa podia receber mais uma bandeira.

O cenário é de dor, tristeza, angustia, revolta... As vezes era difícil acreditar que o ser humano foi capaz de tanta atrocidade e crueldade...

Não tirei fotos de muitas coisas e até escrever esse post foi difícil para mim, mas acho que são suficientes para terem uma idéia do que vi por lá.

 Há um museu em Berlim chamado Topografia do Terror (imperdível) e o nome não poderia ser mais apropriado, que tem muitas informações sobre o nazismo, caso não possam visitar o campo, conheçam o museu.

Mas, por fim, não posso deixar de registrar que havia propaganda - patética - do governo alemão sobre os campos de concentração, com vídeos, afirmando que os prisioneiros trabalhavam, faziam exercícios físicos, se alimentavam bem, etc... e com isso a maioria da população acreditava nas "boas intenções" do nazismo...

4 comentários:

  1. As vezes eu acho que a crueldade do ser humano não tem limites. E eu imagino como você deve ter se sentido mal visitando tudo isso, a sensação já é ruim quando a gente lê!

    Ótimo blog, Nara!

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  2. Apesar dos horrores vividos, é muito importante a consciência alemã de mostrar e aprender sua própria história, com o objetivo de não repetir os erros do passado. Uma pergunta: o áudio-guia era em inglês?

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  3. Acho que temos mesmo que aprender com eles a preservar a memória...
    "Para que não se esqueça, para que jamais aconteça". Acho que tinha o áudio-guia em espanhol também, mas não me lembro... Abs

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