A entrada do campo |
Confesso
que um dia antes de visitar o campo de concentração eu me senti mal, pois
sempre li sobre o nazismo, vi diversos filmes e sabia que não ia ser fácil para mim ter o
que chamo de “encontro com o passado”.
Nos museus já me emocionava vendo os uniformes, os objetos, as fotos, etc. e confesso que sonhei, na noite anterior à visita, com tudo aquilo que tinha visto e com o que eu poderia ver.
Bom, acordamos e tentamos fazer uma visita guiada, pegamos as indicações sobre a visita no hotel e fomos nos encontrar com os guias (há várias visitas guiadas e é muito fácil pegar as informações nos hotéis). Infelizmente não havia o número de pessoas suficientes para o "tour" (apenas eu, Humberto e uma outra pessoa) e por isso fomos sozinhos, de trem, seguindo as indicações dadas pelo guia.
O campo fica a 35 km de Berlim, na cidade de Oranienburgo, aproximadamente 01 hora de viagem. Chegando na estação, seguimos de táxi até o campo, mas voltamos a pé, fazendo o mesmo caminho feito pelos judeus, ciganos, homossexuais.... Foi o verdadeiro "caminho da morte" para muita gente. As pessoas seguiam sem saber para onde iam e muito menos sem saber o que as esperava.
As milhares de pessoas que passaram por este caminho foram hostilizadas pelo moradores da cidade. Muitos moradores jogavam pedras, "xingavam" e humilhavam aquelas pessoas, numa demonstração clara de que muitos alemães apoiavam a insanidade nazista.
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O portão de ferro com a frase "O trabalho liberta" |
Quando o ouvi o primeiro relato de um ex-prisioneiro, logo no grande portão de ferro da entrada principal, que contém a frase "o trabalho liberta", narrando sua chegada a Sachsenhausen, percebi que seria uma dia de muitas reflexões...
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o gelo no chão do campo |
o uniforme usado pelos prisioneiros |
Estação Z |
As câmaras de fuzilamento possuíam camadas duplas de parede e o som do fuzilamento não era ouvido no campo, além disso, havia música no local para evitar o som dos tiros.
Não há registro de fuga, pois quem pisasse na zona neutra era fuzilado, ainda havia arrame farpado, cerca elétrica, guardas, e era impossível escapar. As tentativas de fuga eram castigadas com a morte no centro do campo, na frente de todos, para servir de exemplo. Se houvesse suspeita de a fuga era tentada por desejo de morrer, o prisioneiro levava tiros nas pernas, braços e mãos e era levado de volta ao campo.
Quem não cumprisse os procedimentos do campo era severamente torturado. Uma das formas de tortura era colocar o prisioneiro em cela minúscula, pendurado por horas com os braços voltado para trás; com isso o braço era deslocado e dor era terrível, insuportável.
As "bandeirinhas" que identificavam os prisioneiros |
Os prisioneiros eram identificados com uma "bandeirinha" colorida presa ao uniforme, havia uma cor específica para diferenciar judeus, homossexuais, ciganos, religiosos, etc... Uma pessoa podia receber mais uma bandeira.
O cenário é de dor, tristeza, angustia, revolta... As vezes era difícil acreditar que o ser humano foi capaz de tanta atrocidade e crueldade...
Há um museu em Berlim chamado Topografia do Terror (imperdível) e o nome não poderia ser mais apropriado, que tem muitas informações sobre o nazismo, caso não possam visitar o campo, conheçam o museu.
Mas, por fim, não posso deixar de registrar que havia propaganda - patética - do governo alemão sobre os campos de concentração, com vídeos, afirmando que os prisioneiros trabalhavam, faziam exercícios físicos, se alimentavam bem, etc... e com isso a maioria da população acreditava nas "boas intenções" do nazismo...
As vezes eu acho que a crueldade do ser humano não tem limites. E eu imagino como você deve ter se sentido mal visitando tudo isso, a sensação já é ruim quando a gente lê!
ResponderExcluirÓtimo blog, Nara!
Obrigada Sara! Bjo.
ResponderExcluirApesar dos horrores vividos, é muito importante a consciência alemã de mostrar e aprender sua própria história, com o objetivo de não repetir os erros do passado. Uma pergunta: o áudio-guia era em inglês?
ResponderExcluirAcho que temos mesmo que aprender com eles a preservar a memória...
ResponderExcluir"Para que não se esqueça, para que jamais aconteça". Acho que tinha o áudio-guia em espanhol também, mas não me lembro... Abs