Quando visitamos o campo de concentração Sachsenhausen, além do que escrevi no post anterior, fiquei muito perplexa (não sei se essa é a palavra ideal, mas é a que me veio a cabeça agora) quando li e ouvi (por meio do áudio-guia) sobre os procedimentos aplicados aos prisioneiros.
Quando os prisioneiros chegavam ao campo, recebiam um uniforme, seus pertences pessoais ficavam retidos, passavam por um processo de higienização, o cabelo era raspado (e, segundo o relato de um dos sobreviventes, essa foi uma das piores coisas que poderiam ter lhe acontecido quando chegou, pois o cabelo, naquele local, era a única coisa que preservava sua individualidade), permaneciam por um período isolados e, com o tempo, alguns podiam receber cartas, mas estas chegavam abertas.
Os procedimentos eram muito rígidos: todos andavam em filas, de cabeça baixa e qualquer ato que configurasse desvio de conduta era severamente punido.
Alguns prisioneiros podiam jogar xadrez. O jogo, usado como forma de recreação, era admitido porque auxiliava na manutenção da disciplina.
Confesso que ao tomar conhecimento dos procedimentos acima eu fiquei em “choque”, não só por estar visitando um campo de concentração nazista e vendo de perto todos os horrores cometidos ali, mas, principalmente, por perceber que tais procedimentos são muito, mas muito, semelhantes aos procedimentos existentes no Centros de Detenção Provisória (CDPs) do Espírito Santo.
Como já mencionei, um dia antes de visitar Sachsenhausen eu me senti mal, mas estar ali foi muito pior do que eu pensei, e foi ficando pior a cada narrativa, a cada lição que eu ouvia do guia… Na verdade, apesar de estar tão distante do meu estado, eu só conseguia pensar no ES.
Fiquei muito mais incomodada naquele lugar do que imaginei na noite anterior e, por muito tempo, não falei uma palavra até que as semelhanças ficaram tão grandes que tive que comentar com o Humberto e, para minha surpresa, a opinião dele não era diferente da minha.
O que eu pensei que seria o meu “encontro com o passado” tinha se transformado na “surpresa do presente”. Eu não estava visitando um lugar totalmente novo para mim…
Ali, naquele dia, uma frase de Marx fez muito sentido para mim. Dizia Marx que a história se repete, ora como tragédia e ora como farsa. Posso afirmar que a tragédia de Sachsenhausen se repete na farsa que são os CDPs capixabas.
Claro que não temos as câmaras de gás, mas temos uso excessivo de gás de pimenta... Torturas e maus tratos são denunciados quase que diariamente, além de diversas outras violações de direitos humanos e os procedimentos, previstos em portarias estaduais, parecem que foram copiados de lá.
A história está se repetindo aqui, com o discurso falacioso da "ressocialização", da segurança pública e com as inúmeras propagandas do governo no sentido de que os presidios são ótimos espaços destinados à recuperação do preso.
Até nisso somos parecidos. Vejam o video e lembrem-se das propagandas do nosso governo, da "ressocialização", das fotos dos detentos trabalhando, estudando, etc. É a mesma coisa!
E lá, diante daquilo tudo, percebi com muito mais clareza a nossa triste realidade, percebi que Sachsenhausen está muito mais próximo de nós, capixabas, do que eu poderia imaginar. Infelizmente.
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